Data-Driven Education: Entenda as práticas

O que é Data-Driven Education?

Eu ACHO que meus alunos entenderam o conteúdo da aula hoje, afinal, ninguém me perguntou nada quando terminei a explicação…

Vou fazer uma revisão do assunto da aula passada, pois pela cara dos alunos eles não entenderam nada…

Quantas vezes, nós professores não nos perguntamos o que fazer para garantir que aquilo que foi ensinado tenha, de fato, sido aprendido pelos alunos. Para os bons e comprometidos mestres, há quase que uma crise interna instalada pela falta de um feedback mais imediato, capaz de fornecer uma avaliação precisa sobre o ganho de aprendizagem dos alunos aula a aula, ou ainda, conceito a conceito construído e trabalhado em sala de aula.

Invariavelmente, contamos apenas com o nosso próprio feeling, nossa subjetiva capacidade de ler as expressões faciais dos alunos e nossa sensibilidade para fazer uma autocrítica a respeito do sucesso de nossas aulas quanto à promoção da aprendizagem nos alunos.

Algumas escolas incorporaram avaliações semanais em sua metodologia a fim de reduzir o gap de tempo entre uma aula e a avaliação dos resultados de aprendizagem promovidos por ela nos alunos. Entretanto, o que de fato é feito com os resultados dessas avaliações?

Por mais que se consiga diminuir o intervalo de tempo entre aula e avaliação, se os dados gerados por tais avaliações servirem apenas para classificar ou distribuir notas aos alunos, e não para orientar a prática docente, fazer mais provas certamente não implicará melhor aprendizagem.

A escola é uma fábrica de dados. O tempo todo as interações professor-aluno e aluno-aluno estão gerando dados. É uma pena que ainda não consigamos, a cada instante, captar, tabular e nos servir de todos esses dados de maneira instantânea e organizada para mensurar a aprendizagem e corrigir a rota de aprendizado pela qual nossos alunos estão sendo guiados.

Avaliações, sejam elas em que formato forem, ainda são as grandes fontes de dados a partir dos quais professores e gestores escolares genuinamente comprometidos com a entrega de uma educação de qualidade podem enxergar com clareza o status de aprendizagem de seus alunos, reavaliando e reconstruindo as estratégias pedagógicas adotadas. O esquema abaixo ilustra de forma concisa como deveria ocorrer a ação pedagógica baseada em dados:
A partir da leitura de dados claros, organizados e acessíveis, os professores deveriam ser capazes de formular diagnósticos de suas turmas e de seus alunos individualmente, para, em seguida, manterem ou reconstruírem as rotas pedagógicas previamente propostas. Agindo dessa forma, os professores empregariam a maior parte seu precioso tempo e energia na transformação de dados em informação, que por sua vez seria convertida em ação pedagógica.

Na prática, porém, o que ocorre na maioria das escolas é bastante diferente. Sejamos sinceros, a rotina dos professores, geralmente, se resume a:

preparar aulas (pelo menos deveriam) — dar aulas — tirar dúvidas (se der tempo) — preparar provas — corrigir provas — entregar provas — preparar aulas…

Pela análise da rotina acima, percebemos claramente um desequilíbrio no emprego dos esforços dos educadores. Há tempo demais gasto entre cumprir o cronograma e gerar dados (preparar aulas, dar aulas, preparar provas e corrigir provas), e tempo de menos investido em analisar os dados gerados pelas avaliações e replanejar a ação pedagógica.

Professores gastam tempo demais preparando e corrigindo avaliações e tempo de menos — ou quase nenhum — analisando os dados das avaliações, gerando diagnósticos e propondo intervenções

Se você é professor, responda sinceramente às seguintes perguntas:

  1. Você calcula, pelo menos, a média da sala após aplicar uma avaliação?
  2. Se respondeu “sim” para a primeira pergunta, você ou a escola fazem, imediatamente, algum trabalho especial com os alunos que ficaram abaixo da média em cada avaliação?
  3. Você revisa em sala de aula as questões de uma avaliação nas quais os alunos tiveram pior desempenho, identificando as principais fontes de erro?
  4. Você compara o desempenho entre turmas diferentes de uma mesma série?
  5. Você compara o desempenho de turmas de uma série em determinado ano com o desempenho de turmas da mesma série de anos anteriores?
  6. Ao detectar que a maior parte da turma teve dificuldades em determinado assunto ou conceito, você dedica tempo reconstruindo esse conteúdo com os alunos?
  7. Você testa novos formatos, recursos e metodologias para reconstruir esse conteúdo?

Se você respondeu não para a maioria das perguntas acima, sinto informar, mas a avaliação na sua estratégia pedagógica é uma mera formalidade, além de ser um fator de estresse dos seus alunos. A boa notícia é que essa abordagem pode e deve ser revertida. É possível tornar o processo de avaliação muito mais significativo para seus alunos, para você e para sua escola.

O entendimento de que uma avaliação, muito mais do que mero instrumento de verificação da aprendizagem de conteúdos já ministrados, deve ser também um instrumento norteador para práticas pedagógicas futuras é o primeiro passo para adotar uma ação pedagógica baseada em dados.

 

Práticas para Data-Driven Education

Na sequência, listarei algumas sugestões para instituições e professores que queiram adotar a prática de uma abordagem pedagógica mais consistente e significativa. Uma abordagem menos baseada em achismos ou impressões subjetivas, mais apoiada em evidências e dados a partir dos quais seja efetivamente possível mensurar a aprendizagem dos alunos e, a partir disso, propor e validar novas práticas pedagógicas.

  1. Comece trabalhando com dados básicos e em ferramentas simples (a média das turmas em uma avaliação no Excel, por exemplo). Procure conexões e relações entre diferentes dados e diferentes práticas pedagógicas utilizadas em sala de aula. Seja disciplinado, organizado e persistente na coleta.
  2. Comece analisando poucos dados e aumente a quantidade com o tempo. Quando os dados apontarem que alguma metodologia ou prática promoveu bons resultados de aprendizagem, aplique-a repetidamente em mais aulas.
  3. Analise se as etapas que você seguiu, desde a seleção de dados até a identificação de uma boa prática ou metodologia, podem ser estruturadas em um padrão reprodutível.
  4. Envolva os seus alunos, comunicando-se com eles a respeito dos objetivos a serem atingidos. Estimule-os a refletir e a opinar acerca do seu próprio desempenho.
  5. Use gráficos para apresentar os resultados. Eles ajudarão pais e alunos a compreenderem mais facilmente os avanços e as melhorias dos processos de aprendizagem.
  6. Seja transparente na comunicação com outros professores ou gestores sobre como os resultados foram construídos, e como a coleta de novos dados influenciará as práticas pedagógicas. O compartilhamento dessas informações lhe trará outras percepções e caminhos que talvez você não esteja enxergando.

A implantação de uma cultura de uso de dados de forma frequente e disciplinada nas escolas promoverá um ciclo de melhoria contínua na instituição ao longo do tempo. As melhores práticas de cada docente serão evidenciadas e o compartilhamento das mesmas, se estimulado, em reuniões específicas, elevará o padrão de qualidade da educação ofertada pela instituição, além de diferenciá-la no mercado, uma vez que ela desenvolverá uma “memória” de seu sucesso, consolidando sua própria cultura.

Data-driven education é tendência educacional mundial, e tem recebido vultosos investimentos ao redor mundo. Michael Dell (presidente e fundador da Dell) e sua esposa Susan Dell, por exemplo, criaram uma fundação — Michael e Susan Dell Foundation — que se dedica, entre outras coisas, a apoiar e financiar iniciativas inovadoras que se utilizem de dados para melhorar a educação.

É importante que fique claro que o uso de dados para direcionar a educação não deve ser um fim em si mesmo, mas um meio para se encontrar a melhor experiência de aprendizagem para os alunos, com menor subjetividade e mais segurança.

Você concorda que nós educadores estamos subutilizando, por anos e anos, os dados gerados pelas avaliações em nossas escolas? Você não acha que poderíamos nos basear em dados para construir e reconstruir nossas práticas pedagógicas? Quais são as dificuldades imediatas para isso começar a acontecer? Deixe aqui sua opinião ou ponto de vista baseado em sua experiência como educador para enriquecer e aprofundar nossa análise sobre uso de dados na educação.

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