Um documento que poucos leem, mas todos deveriam conhecer
Todo ano, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) publica a Cartilha do Participante da Redação do Enem. A edição de 2025 já está disponível no portal oficial e, como sempre, traz informações essenciais sobre critérios de avaliação, competências cobradas e exemplos comentados de textos que alcançaram notas altas na edição anterior.
Mas aqui está a pergunta mais importante:
Quantos dos seus alunos realmente vão ler as 78 páginas desse documento?
E mais: quantos deles podem melhorar significativamente sua nota se compreendessem de fato todas as orientações que a cartilha oferece?
A verdade é que pouquíssimos estudantes leem o material completo. E é exatamente por isso que cabe à equipe pedagógica da escola, coordenadores, gestores e professores de redação, se apropriar profundamente desse conteúdo e transformá-lo em estratégias de preparação concretas e aplicáveis.
Este artigo não é um resumo da cartilha. É um guia prático sobre como você, gestor ou coordenador, pode usar esse documento oficial como ferramenta de planejamento pedagógico e de orientação efetiva dos estudantes.
O que a cartilha realmente oferece
A Cartilha do Participante está estruturada em duas grandes partes, cada uma com valor pedagógico específico:
Primeira parte: Apresenta a matriz de referência completa da redação, com descrição detalhada das cinco competências avaliadas, níveis de desempenho esperados e o que diferencia uma nota 200 de uma nota 40 em cada dimensão.
Segunda parte: Traz exemplos reais de redações do Enem 2024 que receberam notas altas (incluindo algumas com pontuação máxima), acompanhadas de comentários feitos pelos próprios avaliadores do Inep, explicando o que tornou aqueles textos eficazes.
Além disso, o documento detalha:
- A estrutura obrigatória do texto dissertativo-argumentativo
- Os critérios específicos utilizados pelos corretores
- Os motivos que levam à anulação total da redação
- Exemplos de textos com problemas graves e suas respectivas falhas
- Alertas sobre práticas que prejudicam a avaliação, como o uso do chamado “repertório de bolso”
Para quem ensina redação ou coordena essa preparação, ter domínio sobre esses elementos é transformar intuição em método.
As 5 competências: relembrar para ensinar melhor
As competências avaliadas na redação do Enem não são novidade para quem trabalha com preparação de estudantes. Mas a cartilha faz mais do que apenas listá-las: ela desmembra cada uma em níveis de desempenho, mostrando concretamente o que separa um texto mediano de um texto exemplar.
Vale relembrar rapidamente:
Competência 1: Demonstrar domínio da norma culta da língua escrita.
Não se trata de escrever de forma rebuscada, mas de evitar desvios gramaticais que comprometam a clareza e a formalidade do texto.
Competência 2: Compreender a proposta e aplicar conceitos de várias áreas do conhecimento.
Este é o núcleo da avaliação: o estudante entendeu o tema? Conseguiu mobilizar repertório cultural legítimo e pertinente?
Competência 3: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações e argumentos em defesa de um ponto de vista.
Aqui temos a competência da estrutura argumentativa e da coerência interna do texto.
Competência 4: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos de argumentação.
Trata-se do uso adequado de conectivos, da progressão textual e da articulação entre as partes do texto.
Competência 5: Elaborar proposta de intervenção com respeito aos direitos humanos.
A proposta deve ser detalhada, viável e eticamente fundamentada.
Cada uma dessas competências é avaliada de forma independente e recebe uma nota de 0 a 200 pontos. A cartilha apresenta rubricas detalhadas que explicam o que é esperado em cada faixa de pontuação, oferecendo uma base sólida para que professores e coordenadores alinhem suas práticas de correção aos critérios oficiais.
Redações nota alta: o que elas ensinam além do conteúdo
Uma das seções mais valiosas da cartilha são os exemplos comentados de redações que tiveram desempenho elevado no Enem 2024. São dez textos acompanhados de análises detalhadas feitas pelos avaliadores oficiais.
Esses comentários revelam:
- Como os argumentos foram construídos e articulados entre si.
- De que forma o repertório sociocultural foi mobilizado de maneira produtiva.
- Como a estrutura dissertativo-argumentativa foi respeitada sem comprometer a fluidez.
- De que maneira a proposta de intervenção foi apresentada com detalhamento e viabilidade.
É fundamental que esses textos não sejam vistos como modelos prontos a serem copiados, mas como objetos de análise crítica. Trabalhar com esses exemplos em sala de aula gera discussões riquíssimas sobre o que torna uma redação verdadeiramente eficaz dentro dos critérios do Enem.
Uma sugestão prática é promover sessões de análise coletiva desses textos com professores e, depois, replicar o exercício com os estudantes, incentivando-os a identificar os elementos que justificaram as notas altas.
Os motivos de anulação: prevenção que evita frustrações
A maior parte das anulações de redação no Enem ocorre por razões formais que poderiam ser facilmente evitadas se os estudantes conhecessem os critérios com clareza. A cartilha lista de forma explícita o que leva à nota zero:
- Fuga total ao tema proposto.
- Cópia literal de trechos da coletânea sem desenvolvimento próprio.
- Texto com menos de sete linhas escritas.
- Desrespeito aos direitos humanos.
- Uso de palavrões, desenhos ou outras formas propositais de anulação.
- Identificação do candidato em qualquer parte do texto.
Além disso, há um ponto específico que merece atenção especial dos coordenadores: o alerta sobre o “repertório de bolso”. Trata-se de citações genéricas, memorizadas e desconectadas do tema, que muitos estudantes utilizam como estratégia de preenchimento. A cartilha deixa claro que esse tipo de recurso não demonstra domínio de conteúdo e pode prejudicar significativamente a nota na Competência 2.
Discutir esses limites com os alunos, de forma preventiva, é uma das formas mais eficazes de evitar perdas desnecessárias no dia da prova.
Como gestores podem usar a cartilha no dia a dia escolar
Conhecer a cartilha é uma coisa. Transformá-la em instrumento de trabalho pedagógico é outra. Aqui estão algumas sugestões práticas de como coordenadores e gestores podem incorporar esse material à rotina de preparação:
- Promova formações internas com base na cartilha
Organize encontros com os professores de redação (e também de linguagens) para estudar coletivamente a matriz de referência. Discussões sobre os níveis de desempenho esperados em cada competência alinham expectativas e unificam critérios de correção.
- Promova encontros de alinhamento sobre os critérios de correção
Além das formações com professores, promova encontros diretos com os estudantes para discutir os critérios de avaliação. Muitos alunos desconhecem como cada competência é pontuada ou o que os avaliadores realmente buscam. Sessões de alinhamento reduzem ansiedades, desmistificam crenças equivocadas e ajudam os estudantes a compreenderem que a redação do Enem segue critérios técnicos claros e treináveis.
- Utilize os textos comentados em atividades práticas
Inclua os exemplos de redações nota alta em aulas ou encontros de preparação. Peça aos estudantes que identifiquem os elementos que justificaram as notas, promovendo uma leitura ativa e crítica.
- Crie rubricas de correção baseadas nos critérios oficiais
Garanta que as correções feitas na escola sigam a mesma lógica dos avaliadores do Enem. Isso dá consistência ao feedback e prepara o aluno para reconhecer o que será cobrado na prova real.
- Alinhe simulados e correções à matriz do Enem
Certifique-se de que os simulados aplicados na escola reproduzam não apenas o formato da prova, mas também os critérios de avaliação. Se você precisar de apoio nesse processo, a Evolucional oferece o evo | red com até 24 propostas de redação por ano, organizadas em 8 eixos temáticos alinhados ao Enem e simulados nacionais com correção especializada da nossa equipe. Além de uma plataforma completa com relatórios detalhados por competência.
O papel da escola vai além de transmitir informações
A Cartilha do Participante é um documento técnico, feito para estudantes. Mas sua função pedagógica mais profunda se realiza quando professores e gestores a utilizam como base para planejamento, formação e alinhamento de práticas.
Quando a equipe pedagógica domina esse material, ganha clareza sobre o que ensinar, como corrigir e como orientar os estudantes de forma precisa e fundamentada. E quando isso acontece, os alunos ganham segurança, orientação qualificada e, sobretudo, ganham mais chances de demonstrar o que realmente sabem no dia da prova.
A cartilha como aliada da preparação estratégica
A Cartilha do Participante da Redação Enem 2025 está disponível gratuitamente no site do Inep. Baixe, leia e discuta com sua equipe. Transforme esse documento oficial em ferramenta viva de planejamento pedagógico.
Preparar bem os estudantes para a redação do Enem também é parte do compromisso da escola com o futuro deles. E esse compromisso começa com gestores e coordenadores que não apenas conhecem os critérios, mas sabem traduzi-los em práticas concretas de ensino.
Quer se aprofundar no assunto? Confira o vídeo completo no Canal Radar do Educador:
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