Você já deve ter passado por isso: quando começa o aprendizado de uma coisa nova, a evolução é muito rápida e cada tentativa dá um resultado melhor que a anterior; depois de um tempo, a habilidade aprendida vai se fixando, você começa a cometer menos erros e se sente com segurança para realizar a tarefa. Por fim, você para de pensar no que está fazendo e passa a realizar a ação de modo automático. Esse processo, que foi identificado por psicólogos nos anos 60, vale para muitas atividades, desde dirigir até falar um novo idioma, passando por aprender um jogo ou tocar um instrumento musical.
O que nós nem sempre percebemos é que esse momento em que o pensamento fica automático não é, na verdade, o fim da história. Ele costuma ocorrer quando ainda falta muito para realizarmos nosso verdadeiro potencial nessa atividade. É o que o escritor Josh Foer chamou, em seu livro A Arte e a Ciência de Memorizar Tudo, de “Platô OK”.
Zona de Conforto na aprendizagem
Se visualizarmos o aprendizado como uma curva, o seu início é íngreme, indicando uma subida rápida, enquanto o meio é uma linha paralela à base. É essa linha horizontal que o Platô OK representa: uma zona de conforto, em que chegamos a um ponto que sentimos ser “bom o suficiente” e perdemos a motivação para avançar (pense, por exemplo, em um estudante de violão que consegue tocar algumas músicas simples e não se interessa por aprender outras, mais complexas). Há basicamente dois motivos para essa estagnação:
1 – quando não estamos melhorando frequentemente, ficamos menos motivados. A percepção de melhora contínua é, em si, um reforço positivo, que cria vontade de avançar para o próximo passo;
2 – ser bem-sucedido é bom, falhar é incômodo. Para avançar além do Platô OK, precisamos correr riscos, e isso gera um medo que acaba por incentivar a permanência nesse estado mediano.
O melhor que você pode fazer
Tipicamente, alguém que atingiu o Platô OK para de evoluir não porque seja incapaz de se tornar melhor, mas porque chegou a um estágio em que automatiza a tarefa. Estudiosos que se debruçaram sobre o assunto perceberam que, para conseguir sair dessa zona de conforto, as pessoas precisam se manter no que eles chamam de “estágio cognitivo”, ou seja, aquela curva mais íngreme, em que o aprendiz está tendo contato com novos aspectos de sua atividade o tempo todo. Isso impede o cérebro de automatizar a tarefa e faz com que novas conexões neurais continuem a ser criadas. E, para se manter nesse estágio, é necessário correr riscos: ao invés de fazer as coisas da mesma maneira, todos os dias, precisamos nos expor a dificuldades maiores (tentar, por exemplo, tocar músicas mais complexas ou ler, em outra língua, textos literários que são difíceis até para falantes nativos).
Portanto, o melhor que você faz hoje não é, necessariamente, o melhor que você pode fazer. É provável que, na maioria das tarefas, você tenha estacionado em uma zona de conforto. Sair dela exige um pensamento específico, mas a boa notícia é que não se trata de nada impossível. Em um próximo post, vamos discutir alguns exemplos de como essa ideia pode ser aplicada às escolas. Até logo!