Sala de aula vazia no Brasil. O esvaziamento da cultura escolar como uma das consequências do apagão de professores no Brasil.

Apagão de professores: um alerta para o futuro da educação brasileira

Uma crise silenciosa, mas global

A expressão apagão de professores vem ganhando espaço no debate educacional. Embora pareça um problema restrito ao Brasil, trata-se de um fenômeno global. De acordo com relatório da UNESCO de 2025, o mundo precisará de 44 milhões de novos docentes até 2030 apenas para garantir o direito à educação básica. Países como Japão, Estados Unidos, França e Reino Unido também enfrentam sérias dificuldades para atrair e manter professores nas salas de aula.

A raiz do problema é profunda: envolve valorização profissional, condições de trabalho, formação inicial e o reconhecimento simbólico da carreira docente. No Brasil, esses desafios ganham contornos ainda mais dramáticos — e exigem resposta imediata.

 

O crescimento que esconde uma fragilidade estrutural

Nos últimos anos, os dados censitários indicam aumento no número de professores nas redes estaduais. De 2020 a 2023, foram quase 30 mil docentes a mais

gráfico ilustrativo sobre o aumento da quantidade de docentes nas redes estaduais entre os anos de 2020 e 2023. Em 2020 havia 639 mil docentes e em 2023, 668,5 mil.
O crescimento do número de docentes nas redes estaduais não revela a realidade e os problemas enfrentados na educação

Mas essa aparente boa notícia esconde um dado preocupante: esse crescimento se deu, majoritariamente, por meio de contratações temporárias.

Segundo estudo do Todos Pela Educação (2024):

  • O número de professores efetivos caiu 17%.
  • O número de temporários subiu 41%.
  • Em 15 estados brasileiros, os temporários já são maioria.
  • Em todo o país, mais da metade dos professores das redes estaduais não têm vínculo estável.
O gráfico explica que o aumento no número de docentes nas redes estaduais do Brasil se deu mais por contratações de professores temporários (+41,3%) e menos por professores efetivos (-17,4%) entre os anos de 2020 e 2023.
A verdade sobre o aumento de docentes nas redes estaduais: professores temporários

Essa realidade traz implicações sérias: menores salários, alta rotatividade, ausência de benefícios, fragilidade na formação continuada e prejuízo pedagógico. Estudos associam esse tipo de vínculo a menor rendimento dos estudantes em avaliações externas, como o Saeb, especialmente em Língua Portuguesa e Matemática.

Um aluno da 3ª série do Ensino Médio que tem aula com professor temporário pode ter o equivalente a até 333 dias letivos a menos de aprendizado.

 

Consequências reais: quando a falta de professores vira falta de futuro

A escassez docente vai muito além da gestão de pessoal. Ela impacta diretamente o direito de aprender, e seus efeitos são mais sentidos por estudantes de territórios vulneráveis, como periferias urbanas, zonas rurais, comunidades indígenas e quilombolas.

Sem professores, aumentam:

  • A improvisação nas substituições;
  • A descontinuidade dos projetos pedagógicos;
  • O esvaziamento da cultura escolar;
  • A desmotivação docente e discente.

Além disso, mais de 35% dos professores efetivos têm mais de 50 anos e devem se aposentar nos próximos anos. Se não houver renovação da carreira, o que hoje é um apagão parcial pode virar um blackout educacional.

 

Sinais de reação: três políticas que reacendem a esperança

Reconhecendo a gravidade da situação, o Ministério da Educação lançou em 2025 o programa Mais Professores para o Brasil, com ações sistêmicas voltadas à atração, formação, seleção e permanência dos docentes.

1. Prova Nacional Docente

Apelidada de “Enem dos Professores”, a prova será anual e poderá ser usada pelas redes como etapa inicial de concursos públicos. Isso deve:

  • Ampliar a frequência de concursos (hoje, a cada 5 a 7 anos);
  • Melhorar a seleção, com foco em competências pedagógicas;
  • Reduzir o número de temporários e aumentar os vínculos efetivos.

2. Pé-de-Meia das Licenciaturas

Para tornar a licenciatura mais atrativa, estudantes com mais de 650 pontos no Enem que optarem por esse curso terão:

  • Bolsa mensal de R$700 durante toda a graduação;
  • Depósito adicional de R$350 por mês em poupança, liberado após a formatura e ingresso na rede pública.

Em 2025, após o anúncio, as inscrições em licenciaturas cresceram 23%.

3. Bolsa Mais Professores

Para resolver a escassez em áreas críticas, com foco em locais de difícil alocação e disciplinas com déficit, o programa oferece:

  • R$2.100 mensais adicionais ao salário, por até dois anos;
  • Pós-graduação gratuita.

Essas medidas sinalizam uma mudança de rota importante, que reconhece a docência como uma carreira estratégica para o país.

 

O que gestores e escolas podem fazer agora?

Mesmo com políticas nacionais estruturantes, a valorização docente acontece no chão da escola. Gestores escolares têm papel fundamental na permanência dos bons professores.

Cinco ações concretas podem fazer a diferença:

  1. Formações continuadas com foco na prática pedagógica real.
  2. Criação de espaços de escuta e colaboração.
  3. Reconhecimento institucional dos bons resultados.
  4. Busca por incentivos financeiros, mesmo em contextos de orçamento restrito.
  5. Participação docente nas decisões pedagógicas e organizacionais.

Essas ações não exigem grandes orçamentos, mas clareza de propósito, coerência nas decisões e compromisso com quem está na linha de frente.

 

Quem cuida de quem ensina, garante que o país continue aprendendo

O apagão de professores é fruto de uma história longa de omissões, inércias e escolhas equivocadas. Mas ainda há tempo de mudar. A valorização docente precisa ser tratada como prioridade urgente — não apenas com discursos, mas com ações concretas, integradas e sustentáveis.

O que sua escola tem feito para manter os bons professores por perto?

Se esse tema te tocou, assista também ao vídeo completo no canal Radar do Educador:
🎥 Apagão de Professores: Um Alerta para o Futuro da Educação Brasileira

Continue acompanhando nossos conteúdos no blog da Evolucional.
Por meio do desenvolvimento de redes mais fortes, com colaboração e acesso a informações relevantes e dados precisos, podemos, juntos, fazer a diferença em uma das áreas mais sensíveis do país.

Compartilhar

Copiar link para área de transferência

Copiar