Sumário
- A nova cara do PISA: mais do que uma prova, um chamado à ação
- O que é o PISA e por que ele importa?
- Sobre a correção das provas e a importância da metodologia do PISA
- PISA 2025: o que muda na avaliação de Ciências?
- Um novo tripé de competências
- Avaliação digital e tarefas interativas
- O Brasil no PISA: onde estamos?
- E o que as escolas podem aprender com o PISA 2025?
- Mais do que saber ciência, é preciso saber usá-la
A nova cara do PISA: mais do que uma prova, um chamado à ação
Se você é gestor escolar, já deve ter ouvido falar do PISA — Programa Internacional de Avaliação de Estudantes — organizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Criado no ano 2000, o exame é hoje a maior e mais influente avaliação educacional do mundo, comparando o desempenho de jovens em mais de 80 países.
No Brasil, o PISA é aplicado por meio de uma amostragem representativa. Na edição mais recente, realizada em 2022, participaram 10.798 estudantes de 599 escolas, incluindo Institutos Federais, escolas estaduais, municipais e privadas. Embora esse número represente apenas 1,56% do total de participantes globais, a amostra possui significância estatística e permite traçar um retrato confiável da realidade educacional brasileira. Os resultados, quando publicados, oferecem muito mais do que rankings, eles nos provocam com uma pergunta essencial para todos que atuam na educação básica:
O que, de fato, os nossos jovens conseguem fazer com o que aprendem na escola?
Mas o que talvez nem todos saibam é que, em 2025, o PISA passará por uma de suas maiores transformações. E entender essas mudanças não é só uma questão de currículo, é uma responsabilidade estratégica para escolas que desejam formar estudantes mais preparados para um mundo em transformação.
O que é o PISA e por que ele importa?
O PISA avalia, a cada três anos, as habilidades de estudantes na faixa etária dos 15 anos, em dezenas de países, nas três principais áreas abaixo:
- Leitura
- Matemática
- Ciências
Cada edição dá ênfase a uma dessas áreas e, em 2025, o foco será em Ciências, com uma matriz totalmente reformulada.
O PISA não é apenas uma prova de conteúdo escolar. Seu objetivo central é avaliar a capacidade dos estudantes de aplicar conhecimentos em situações reais, do cotidiano em contextos interdisciplinares. A pesquisa avalia domínios chamados inovadores, como Resolução de Problemas, Letramento Financeiro e Competência Global.
O PISA mede o quanto os estudantes conseguem usar o que aprenderam e não apenas o quanto memorizaram.
Sobre a correção das provas e a importância da metodologia do PISA
Uma das fortalezas do PISA está em sua metodologia de correção rigorosa e padronizada internacionalmente. As respostas dos estudantes são processadas por sistemas automatizados e revisadas por avaliadores treinados, garantindo confiabilidade estatística e comparabilidade entre países com contextos educacionais diversos. Além disso, o PISA adota técnicas avançadas de análise, como a Teoria de Resposta ao Item (TRI), que considera a dificuldade das questões e a coerência das respostas para calcular a proficiência de cada aluno. Essa abordagem permite interpretar os resultados com maior precisão, oferecendo evidências sólidas para diagnósticos educacionais e formulação de políticas públicas com base em dados.
PISA 2025: o que muda na avaliação de Ciências?
A avaliação de Ciências no PISA 2025 passa a medir, de forma mais integrada, o que os estudantes sabem e como utilizam esse conhecimento para tomar decisões responsáveis sobre o mundo e as transformações provocadas pela ação humana.
A principal inovação está na ampliação do conceito de alfabetização científica, que agora se refere à capacidade dos estudantes de:
- Envolver-se com questões científicas complexas e contemporâneas
- Aplicar o conhecimento para explicar fenômenos naturais e tecnológicos
- Avaliar dados, evidências e argumentos em contextos reais
- Tomar decisões fundamentadas sobre questões sociais, ambientais, de saúde e inovação

Além disso, a matriz 2025 reforça a importância de atitudes como curiosidade científica, resiliência frente à incerteza e disposição para o pensamento crítico, competências consideradas essenciais para a formação de cidadãos responsáveis em sociedade.
Outro destaque é o enfoque nas interações entre ciência, sociedade e meio ambiente. A avaliação abordará temas como:
- Uso sustentável dos recursos naturais
- Crises climáticas e energéticas
- Inteligência artificial, biotecnologia e saúde pública
- Riscos, incertezas e dilemas éticos da ciência contemporânea
Essas mudanças tornam o PISA não apenas uma avaliação acadêmica, mas também uma ferramenta de diagnóstico das capacidades cidadãs dos jovens e exigem das escolas um salto qualitativo em suas práticas pedagógicas.
Um novo tripé de competências
A matriz do PISA 2025 se estrutura a partir de três eixos principais:
1. Explicação de fenômenos cientificamente
Habilidade de aplicar conhecimentos conceituais (como energia, ecossistemas, saúde, etc.) para entender e explicar fenômenos do mundo real.
2. Avaliação e design de investigações científicas
Capacidade de planejar, avaliar ou propor experimentos e investigações, mesmo que fictícios, com base em critérios metodológicos.
3. Interpretação de dados e evidências
Leitura crítica de gráficos, tabelas, estatísticas e evidências para formular hipóteses ou tomar decisões fundamentadas.
Essas três competências se cruzam com temas contemporâneos, como:
- Saúde e bem-estar
- Sustentabilidade e meio ambiente
- Inteligência artificial e biotecnologia
- Uso ético da ciência
Avaliação digital e tarefas interativas
A aplicação do PISA 2025 será feita integralmente em formato digital, refletindo a crescente integração entre ciência, tecnologia e educação. A proposta da OCDE para esta edição vai além da digitalização da prova: trata-se de uma transformação na experiência de avaliação.
Formato da prova
Os estudantes responderão a uma combinação de:
- Questões de múltipla escolha
- Perguntas abertas com resposta construtiva
- Cenários interativos que simulam situações da vida real e demandam análise, tomada de decisão e raciocínio científico
Esses contextos exigem que o estudante interprete informações, manipule variáveis e construa argumentos com base em evidências, de forma mais próxima ao que se espera da ciência na prática.
Ferramentas digitais e resolução de problemas
A plataforma digital do PISA permitirá que os alunos:
- Explorem sistemas dinâmicos
- Representem ideias por meio de gráficos, fluxogramas e simulações
- Utilizem lógica computacional e processos de investigação científica para resolver problemas contextualizados
Essa abordagem reforça a importância de habilidades ligadas à resolução de problemas complexos, autonomia e pensamento computacional.
Tutoriais, feedbacks e aprendizagem durante a avaliação
Uma inovação importante desta edição será a inclusão de:
- Tutoriais explicativos e exemplos práticos
- Feedbacks processuais durante o exame, com o objetivo de apoiar a experiência dos estudantes e promover o aprendizado como parte da própria avaliação
Essa mudança sinaliza um deslocamento de foco: o PISA passa a se preocupar não apenas com o que o aluno entrega, mas com o modo como ele aprende e reage aos desafios propostos.
Acompanhamento de desempenho em tempo real
A plataforma também registrará o tempo de resposta dos alunos em cada tarefa, permitindo identificar:
- Estilos cognitivos
- Estratégias utilizadas
- Níveis de persistência e autogestão
Essas informações vão alimentar relatórios qualitativos mais profundos sobre como os estudantes processam e aplicam o conhecimento científico em contextos diversos.
O Brasil no PISA: onde estamos?
Os dados mais recentes (PISA 2022) mostram que o Brasil:
- Está abaixo da média da OCDE nas três áreas avaliadas
- Tem um grande percentual de estudantes com desempenho inferior ao nível 2 (considerado básico)
- Apresenta forte desigualdade regional e socioeconômica nos resultados

O desempenho brasileiro segue estagnado desde 2009, com pequenas oscilações dentro da margem de erro estatística.
Com a nova matriz de 2025, o risco é que essa defasagem se aprofunde, especialmente para estudantes de escolas que ainda trabalham com foco exclusivo no conteúdo tradicional, descolado do cotidiano e da prática investigativa.
E o que as escolas podem aprender com o PISA 2025?
As mudanças no PISA são, acima de tudo, um convite à atualização pedagógica. A seguir, listamos estratégias concretas que gestores e professores podem adotar para alinhar sua prática ao novo modelo de avaliação:
1. Valorize a investigação e a problematização
Crie momentos em que os alunos formulem hipóteses, investigue causas e debata soluções para problemas reais, dentro e fora da sala de aula.
2. Trabalhe com dados e gráficos desde cedo
Use informações reais (como dados do IBGE, mapas, sites oficiais, pesquisas de universidades) como base para leituras críticas, inferências e tomada de decisões fundamentadas.
3. Desenvolva projetos interdisciplinares
Integre Ciências com Língua Portuguesa, Geografia, Matemática e outras áreas para simular situações do cotidiano que exijam múltiplas competências.
4. Estimule o letramento científico
Invista em leitura de textos argumentativos, reportagens científicas, vídeos documentais e discussões sobre ética, tecnologia e meio ambiente.
5. Ofereça formações continuadas
Promova encontros pedagógicos com foco na nova matriz do PISA, alfabetização científica, metodologias ativas e letramento em IA.
Mais do que saber ciência, é preciso saber usá-la
O PISA 2025 representa uma virada de chave na forma como entendemos o papel da ciência na formação dos estudantes: o conhecimento científico deixa de ser um fim e passa a ser um instrumento para a tomada de decisão responsável no mundo real.
A nova matriz não se limita a medir conhecimentos escolares: ela avalia a capacidade de interpretar, investigar, argumentar e tomar decisões fundamentadas diante dos desafios do mundo real.
A escola que ensina a pensar, investigar e interpretar, prepara estudantes para a vida.
Essa mudança exige das escolas uma revisão profunda de suas práticas pedagógicas, especialmente no que diz respeito à abordagem das Ciências, à integração com outras áreas e ao estímulo ao pensamento crítico desde as séries iniciais.
O desafio é grande, mas também é uma oportunidade de formar jovens que não apenas memorizam fórmulas, mas que compreendem o mundo à sua volta e se posicionam de forma responsável e ética diante dele.
Para isso, o papel dos gestores e coordenadores é decisivo. São eles que podem liderar a transformação curricular, fomentar a formação docente, valorizar a experimentação e alinhar a escola a um projeto de educação científica mais contemporâneo, conectado e cidadão.
Quer se aprofundar ainda mais?
Assista ao vídeo completo no canal Radar do Educador:
PISA 2025: o que muda e como isso impacta a sua escola
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