Personalização da Educação: como a ZDP de Vygotsky e a TRI podem potencializar a aprendizagem

Saiba como é possível extrair dados específicos de cada aluno a partir de avaliações e utilizá-los na personalização de trilhas de aprendizagem.

Objeto de desejo da maioria dos educadores é conseguir personalizar a educação, respeitando as características de cada aluno e considerando suas particularidades. Nesse sentido, a avaliação seria uma alavanca para essa personalização, já que dados precisos e organizados, convertidos em informação relevante, obtidas através de plataformas e ferramentas digitais, podem ajudar as escolas a transformarem e entregarem uma educação de qualidade.

Quando falamos em avaliações externas, temos como exemplo algumas principais, como: Enem, Saeb, Toefl, SAT, Pisa, ACT, OECD, entre outras. Além de serem aplicadas de forma externa, todas elas usam a Teoria de Resposta ao Item (TRI), uma metodologia de medida de proficiência que se aplica a uma escala. Embora não exista uma avaliação perfeita, que entregue um diagnóstico completo e preciso, e considerando que atualmente é notável que algumas avaliações nacionais precisam passar por atualizações, ainda é possível extrair informações e dados das conhecidas avaliações.

Ainda que o instrumento de tais avaliações externas não seja perfeito, por serem testes de múltipla escolha, não conterem questões abertas de resposta construída, não mensurarem o raciocínio lógico e a criatividade, há ainda questões positivas a serem consideradas sobre elas. Um dos exemplos da busca pelos avanços é o novo Enem, apresentado em março de 2022, cuja proposta será contextualizada com as áreas de interesse profissional dos jovens, seguindo as diretrizes do Novo Ensino Médio.

Como os educadores podem trabalhar com os resultados das avaliações externas?

Há como aproveitar as avaliações para ajudar a olhar para os grupos e entender quais são as dificuldades em comum entre os alunos e trabalhar com elas. Veja algumas estratégias para estruturar este trabalho na escola.

Sala de aula “convencional” (30 – 40 alunos)

  • Identificar as questões ou atividades com “pior” desempenho;
  • Fazer uma revisão focada em distratores (ou rubricas) que concentraram a maior porcentagem de erro.

Pequenos grupos (plantões e monitorias)

  • Identificar grupos de alunos com dificuldades em comum;
  • Preparar atividades diferenciadas para esses grupos. Por exemplo: lista de exercícios.

Ação personalizada (orientação dos alunos)

  • Identificar a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZPD) de cada aluno;
  • Desenhar um plano de estudos priorizando o próximo nível.

O que é a TRI (Teoria de Resposta ao Item)?

Trata-se de uma metodologia de mensuração de proficiência dos alunos. Fazendo uma analogia simplificada, quando um aluno vai fazer um teste ou uma prova que utiliza a TRI, é como se ele fosse correr uma corrida de obstáculos, onde cada obstáculo tivesse uma altura pré-definida.

É como se a altura de cada barreira e, a partir de cada um desses obstáculos, fosse possível medir a capacidade deste “atleta”. Cada barreira diferente, neste caso, seria equivalente a um nível de proficiência.

 

No caso do Enem, por exemplo, infelizmente os “obstáculos”, ou seja, as questões, não estão ordenadas por ordem crescente de dificuldade e isso é o que dificulta o desempenho do estudante na prova.

O cálculo da nota feito pela TRI considera o “conjunto de barreiras” que o aluno conseguiu saltar. Melhor dizendo, são o conjunto de questões que o aluno conseguiu acertar.

Neste conjunto, são consideradas não apenas QUANTAS “barreiras” (questões) que o aluno acertou, mas QUAIS foram essas questões.

Espera-se que os alunos tenham um determinado desempenho em algumas questões mais fáceis e que esse nível de dificuldade vá aumentando gradativamente. Seria incoerente um aluno resolver uma questão de extrema complexidade e “tropeçar” em questões básicas.
Quando isso acontece, a TRI identifica como incoerência. É incoerente o aluno acertar uma sequência de questões difíceis e errar questões fáceis. O esperado é que ele acerte as questões mais fáceis e assim sucessivamente, conforme o critério da coerência pedagógica.

A TRI tem um sistema anti-chute que penaliza um padrão de resposta que aparenta ser “chutado”. Para cada item calibrado na TRI, existe uma curva do item, onde é possível relacionar a probabilidade do estudante acertar a questão, conforme a sua proficiência.

Entendendo a ZDP de Vygotsky

Segundo o psicólogo e pensador bielo-russo, pioneiro na área de desenvolvimento intelectual das crianças, Lev Vygotsky, cada aluno tem um conjunto de conhecimentos sólidos, bem definidos, que domina e consegue desempenhar sozinho, sem instrução extra. Essa é a conhecida Zona de Desenvolvimento Real (ZDR), única para cada aluno.

Existe outro conjunto de conhecimento que é a Zona de Conhecimento Potencial, que é quando o aluno é exposto a um conteúdo mais complexo, na tentativa de expandir a zona de conhecimento, porém ele ainda não tem autonomia e precisa de ajuda e instruções. Há um potencial a ser atingido, porém, não sem percorrer um trajeto.

A ZDP (Zona de Desenvolvimento Proximal) de Vygotsky é um conjunto de conhecimentos próximos ao que o estudante domina e que, com algumas instruções, consegue aprender de forma fácil e rápida. Para uma aprendizagem significativa, Vygotsky orienta trabalhar na Zona de Desenvolvimento Proximal.

Como identificar a ZDP de cada aluno?

 Atualmente, existem recursos e ferramentas tecnológicas capazes de fazer um diagnóstico completo, individual e por área, a partir de algumas ferramentas, como provas e resoluções.

Há plataformas que promovem essa convergência entre a TRI e a ZDP que ajudam na construção dessas trilhas de aprendizagem e são capazes de tangibilizar a aprendizagem de cada estudante.

Por meio da mensuração de dados obtidos de cada uma das questões de diferentes avaliações, é possível organizar uma trilha de revisão de prova personalizada para cada aluno, considerando as questões que ele errou, mas que tinha grande chance de acerto.

Assim, o estudante poderá consolidar conhecimentos que estejam próximos a sua zona de aprendizagem, impactando positivamente em sua nota e desempenho. Mais do que oferecer uma aprendizagem personalizada, os dados contribuem para que educadores e coordenadores tenham clareza sobre o desenvolvimento de cada turma e sobre como atuar pontualmente na evolução do aprendizado de cada estudante.

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